terça-feira, março 21, 2006

A promessa que não se cumpriu.

Ela voltava da feira como Ulisses: alas, carros, rodas enferrujadas, luzes, paredes amarelas, nescafé, margarina, o que é ricota? ops, desculpe, não te vi por aí, olá como vai, tudo bem, não queria esse, era o vermelho que eu tava atrás, ó, moça, desculpa, dá pra tu tirar da notinha, por favor? Vixe, tenho que chamar o gerente, senhora, só um minutim.

Voltava satisfeitíssima pra casa, pouco mais do que feliz, acima do chão, contente consigo mesma. Mas hoje era noite de lua-cheia, ela era de peixes, e o sinal fechou. O carro morreu. Bastou isso, foi um gatilho, e a bala atravesara seus olhos miúdos e verde-amarelados: puta que porra! Carro filho da puta, deu no prego, num pode! Anda, cão! Agora, no meio da rua, Ave Maria, Oh, meu Deus, me ajuda. Oh, Senhor, hoje num podia, hoje num podia de jeito nenhum.

Nervosamente ajeitava os cabelos, enquanto os carros de trás, mais impacientes do que apressados, um pouquinho dos dois, vrumavam, um por dois, cada um pela janela dela, que já tinha feito todo mercantil do mês, custara tudo cento e vinte, tinha até comprado passatempo e prometera que hoje ela não ia chorar. Quanta ambição de sobreviver nesse mundo que não ajuda, meu Deus!

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