sábado, janeiro 27, 2007

Parafraseado de Laing (1969)

Margaret era filha de sua mãe, que alternava o modo como a chamava: Maggie era sua filhinha pequenina e ingênua; Margaret era uma mulher crescente, própria, que sabia tomar conta de sua cabeça.

Certo dia, estava no jardim de sua casa, no final da tarde, conversando com alguns de seus amigos, quando sua mãe apareceu na janela e gritou-lhe: Margaret, venha para dentro, agora!

Sem saber o que fazer, a menina-mulher-menina virou o olhar para sua mãe, virou o olhar para si, não encontrou nada e quando foi procurar novamente não havia mais ninguém para lhe segurar o choro.

sábado, janeiro 06, 2007

Talvez me sinta aliviado afinal; talvez venha como o final que sempre quis: dramático, vermelho, épico; um gran finale digno de mistério e silêncio. A audiência se calaria em resposta às maravilhas presenciadas, às explosões, aos sortilégios, ao zênite da estória; toda a mentira ruindo pelo palco, escoando pelo chão, molhando a casa, ensopando seus sapatos lustrosos e negros. Um true broadway spetacle.

Ela sabe meu nome, vai usá-lo e aí tudo estará terminado. E este espelho que carrego há tantos anos partir-se-á em trezentos pedaços no quebrar do silêncio. Quando ouví-la falar. Quando da última vez que troquei palavras com alguém? Que escutei a melodia de outra voz que não a da saudade? Quando meus ouvidos dançaram pelo salão de outra música que não a que sai das cordas deste piano velho, que já cede? O tempo passou-me, deu-me um adeus rapidíssimo e deixou-me com a música de companheira. Vou parar de tocar. Ela chegou.

E talvez venha com o final que eu sempre quis.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Know Your Rights

I

Sinceramente, não sei. E na mesma hora ela pensou como essa, com certeza, estava na Top Dez das mais estúpidas; podia ter respondido qualquer coisa, ou nem ter respondido at all: ter deixado o silêncio fazer os sortilégios voláteis de sempre. Mas não, agora já foi, deixa.

A camisa do The Clash gritava. Lembrou-se da tatuagem da Angelina Jolie, essa dona também é gostosa, mas eu tenho logo que ir mimbora. Olhou pro outro lado, procurando o Parangaba/Papicu. Passou um tempo, passou outro, ela respirava com os braços cruzados, apertando os tríceps que não tinham nada demais; não gritavam como a camisa dele. E as havaianas dela eram pretas.

Gosta de The Clash? Que remédio! Gosto, cara, tenho essa e outra, e tu? Eu? Num tenho camisa, mas tenho um London Calling piratão que um amigo me deu, mas nem escuto muito e tal... Porra, estúpida! Sério, cara? Eu gosto do Combat Rock, ó. E daí, porra?! Tomou fôlego: Sabe, quando te vi, me lembrei da Know Your Rights, continou, e da Angelina Jolie também, por causa da tattoo dela aqui nas costas. Sério? Sério, cara. Sorriu, e ele pensou que não precisava ir embora logo.