terça-feira, março 14, 2006

Coisa boa não é tarefa do destino.

Ele me deu um ovo da Garoto, mas eu disse, claramente, depois de assistir Super Size Me: "Renato, tô de dieta! Vou cortar todas as porcarias!" Mais aí, lá se vem ele, em plena páscoa, tanta hora pra ficar de dieta, com um ovo 48. "É pra gente dividir."

Puta que pariu, Renato! Tu não me ouve não, é? Tu é surdo, porra? Num disse que tava de dieta, que num ia comer mais porcaria? Que que tu tem nessa cabeça? Babaca! Num quero essa porra não! Idiota! Sai daqui! Sai! Sai! Mas eu comprei pra gente dividir, achei que tu fosse gostar. Eu num te disse, porra, que tava de dieta? Tu num tem vergonha na cara, não? Isso aí que tu tem na mão é a prova cabal da tua falta de vergonha na cara! Já te disse que não te quero perto de mim! Mas.

E ele saiu. Do quarto, primeiro. Depois, passou pela sala, abriu a porta e foi-se. Eu sei porque deu pra ouvir o barulho do portão fechando. Quando levantei, fui assoar o nariz, tomar uma dose de coca light e encontrar aquele ovo em cima da mesa de vidro da sala, me encarando. Não tinha ninguém em casa. Eu não tava de TPM. Um ventinho bateu da janela aberta e derrubou o ovo, e junto, todo o meu amor-próprio, todas as minhas certezas, toda as minhas fixações, os meus complexos, meus traumas. Meu coração implodiu de tanto peso em cima dele. Tanto peso que eu nunca soube que tava ali. Eu sempre estive cega pro meu coração. Levantei o ovo, mas não tive coragem de ligar pro Renato pra pedir desculpas. Sempre sou eu quem peço desculpas, ora mais, ele que venha aqui falar comigo. Mas ele nunca veio, eu nunca liguei, nunca me desculpei, nunca o meu coraçãozinho conseguiu se remontar de novo. Fui enterrada, quase só, junto com meu nome.

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