domingo, março 19, 2006

O duende bonzinho.

Todo mundo acreditava no duende bonzinho: ele morava em cima de um cogumelo vermelho com manchinhas amarelas. Tinha um rio pertinho do cogumelo vermelho, que chuava descendo, até chegar na cachoeira: chuvia lá embaixo, debaixo e entre as pedras pontiagudas. Por que todo mundo acreditava nele? Ora, porque o duende bonzinho era simplesmente vermelho de felicidade! Ele saía pulando pelos jardins verdes, entre as margaridas, entre os dentes-de-leão, pulando, saltitateando por aqui e por ali, e por acolá também. Ah, como era bom ver o duende bonzinho alegrando essa nossa mata daqui!

E um dia, não faz tanto tempo, meu filho, o duende bonzinho estava a fumar seu cachimbo, sentado no topo do seu cogumelo vermelho. Pitava e pitava, e uma fumaça que ele não queria cinza, escapava azul, roxa, anil e púrpura da boca dele. E lá do alto do céu azulão, todos os animais puderam avistar: dois pontinhos pretos sobrevoando, bem lá de cima, circulando o cogumelo do duende bonzinho. Deve ser a fumaça do cachimbo, pensaram. Mas, na mesmíssima hora, repensaram, ei, mas o duende não pita fumaça negra. Que será?

Com os olhos bem fechados, coçando os cachinhos avermelhados, descobertos do gorro verde-claro, o duende relaxava de sua última tarde de saltos. Isso aconteceu de tardezinha, pra chegar de noite. Daí, meu filho, lá do alto, os pontinhos negros foram descendo e descendo e descendo, e quando não tinha mais pra onde descer, eles olharam, com aqueles olhos grandes e maníacos que só urubu tem, pra felicidade do duende bonzinho. Vieram os dois em cima do pobre pitador, que deixou o cachimbo marrom cair na graminha verde, agora um pouco vermelha, com o dedo mindinho do duende do lado esquerdo do cogumelo.

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