quinta-feira, março 02, 2006

Dois filhos.

Não, é, eu sei, esse negócio de fumar eu herdei do papai. Desculpa, mas todo dia, eu preciso, sabe? É como um vício. Não, é como; não é: se eu quiser parar, passar algum tempo sem, mas é ruim, entende? Mas isso não importa: te chamei para uma coisa importante. É sobre a mamãe. Calma, ela tá bem. Não, não é dinheiro, Adriano, deixa eu dizer. Não, calma, ela continua mais viva e esclerosada do que nunca. Ãh? Como assim "o papai deixou ela por alguém mais nova?" Quem mais novo ia querer o papai, Dino? Deixa eu falar, logo, porra. Daí tu pára de perguntar.

O Cássio me chamou às duas da manhã, pelo telefone da cozinha. É que eu nunca dou o da linha do quarto pra ninguém. Preservo a minha intimidade. Pois bem, ele me liga, diz que tem algo urgente pra me dizer, manda encontrar ele lá em algum café da Aldeota e desliga. Eu tive que pegar o carro da Nena, minha esposa: o meu tava sem gasolina. É bom que seja importante. O Cás tem essa mania terrível de ligar no meio da madrugada pra falar das crises existenciais dele.

Não, não, eu entendo perfeitamente. Mas não tem como o senhor... Hum, tá certo, não, claro, perfeitamente, ninguém quer causar problemas, mas tente entender a minha posição como fi... Não, mas o senhor não pode deixar ela fora do... Mas e o plano que eu pago toda porra de mês? O senhor vai ignorar desse jeito? Não, eu não acho que esteja sendo irracional! Esse tipo de operação eu tenho certeza que o plano cobre e o senhor não pode ne... Claro que não pode! Porra, o senhor não sabe o que vai acontecer se ela não retirar aquele negócio do ovário dela, então? Não sabe? Vocês médicos são todos iguais... Não, não quero nenhum tratamento, nem endereço de funerária nem nada! Passar bem! Não acredito nisso, Ave Maria. Vou ligar pro Dino.

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