quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Separação.

A culpa não é minha, ele dizia. E perguntava se queria me fazer mal. Perguntava se algum dia pensou que talvez a intenção não importasse nenhum pouco quando se trata de me ferir, de esquecer a mãe dele nas Americanas, de esquecer as chaves do carro pela casa todo dia, toda hora, só esperando pela hora errada acontecer.

E ainda era ignorante. Cresci com meu pai sendo ignorante comigo, sei lidar com eles. Cresci dilacerado entre meus pais: uma perguntando todo dia se eu ainda amava a mamãe; o outro, com aquele cheiro meio-perfume, meio-cachaça, me chamando bem ali para me perguntar se já havia comido boceta. Ou pegar um copo de sorvete. Conhecia ele, bem mais do que ele achava, mas bem menos do que eu desejava. Ele era egoísta, ele era desatencioso, ele era carinhoso. Eu achava que. Mas não era, porque se for pra mudar, as pessoas mudam por quem amam, se for amor mesmo. Não era.

Disse a ele que deveria se cuidar, deveria ser mais organizado, mas continuava se escondendo atrás da doença, a culpa não era minha, é o meu psisquismo, é aqui dentro. Ele ainda não havia descoberto o poder das palavras; que quando a gente diz que o problema é meu, e que o problema sou eu são duas coisas diferentes: a minha mente está doente, eu estou doente. Não importa, eu quero que você pare de falar comigo porque eu sou linda e não nasci para aguentar abuso. Adeus.

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