(Na cozinha, olhando para cima) Tem uma luz aqui em casa que passou muito tempo queimada, sem ninguém com coragem de trocar. Aí trocaram. O negócio é que agora ninguém mais usa ela: fica parecendo outra casa, outro lugar, estranho, até assustador, é a nossa casa, mas não é a nossa casa, sabe?
(No quarto, deitado, olhando pra rede) Os mosaicos da rede são como vários olhos arregalados, assustados, negros e hipnotizados, saídos de um pesadelo para me atormentar o sono, a noite; noite de lua nova, envergonhada, agonizante, tímida, fraca, que definha. Mil olhos me perscrutam.
(No quarto, abrindo o plano: analisando o som, a matéria se contraindo, saindo só do olhar) O som contínuo do ventilador no quarto pequeno é um mantra: fraco, depois se intensifica ... para enfraquecer novamente; os barulhos do prédio se contraindo no frio da madrugada são fantasmagóricos, impossíveis; janelas sendo fechadas, buzinas o ventilador, algum alarme de carro, um burro relincha - não conhece a hora de calar. Alguém vai ao banheiro, o cachorro se espreguiça, a lua se esconde entre as nuvens, o portão se abre, o namorado volta para sua casa. Madrugada adentro, o inevitável ranger dos armadores no suporte velho e sem óleo.
(No quarto, deitado, olhando pra rede) Os mosaicos da rede são como vários olhos arregalados, assustados, negros e hipnotizados, saídos de um pesadelo para me atormentar o sono, a noite; noite de lua nova, envergonhada, agonizante, tímida, fraca, que definha. Mil olhos me perscrutam.
(No quarto, abrindo o plano: analisando o som, a matéria se contraindo, saindo só do olhar) O som contínuo do ventilador no quarto pequeno é um mantra: fraco, depois se intensifica ... para enfraquecer novamente; os barulhos do prédio se contraindo no frio da madrugada são fantasmagóricos, impossíveis; janelas sendo fechadas, buzinas o ventilador, algum alarme de carro, um burro relincha - não conhece a hora de calar. Alguém vai ao banheiro, o cachorro se espreguiça, a lua se esconde entre as nuvens, o portão se abre, o namorado volta para sua casa. Madrugada adentro, o inevitável ranger dos armadores no suporte velho e sem óleo.
Um comentário:
já viu?
tem hora que a gente olha pro vento frio e reconhece-se.
que é hora de andar mais rápido.
Postar um comentário