segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Café e cigarros.

Colocou o cigarro no cinzeiro, daqueles prateados escuros, que a luz não faz brilhar. Disse tudo que não queria ouvir: como te adoro, como preciso de ti, dos teus lábios, tuas coxas, tuas bochechas, do teu cheiro quando acordo. Preciso de ti, mais do que qualquer outra pessoa jamais precisou de alguém em toda a história conhecida e desconhecida. Estórias dele.

Mas eu já estava ali, perdida, encontrada no meio da tanta fumaça do bar. Era um local cult, de nariz empinado, lá na Aldeota: toda quinta havia jazz; no térreo, embaixo da cafeteira, uma galeria de arte. O Expresso deveria custar 1, 90. Ele gostava de me levar lá: não podia pagar nada, então me possuía pelo dinheiro. Isso ele não me disse, mas o olhar dele, ávidos e simples gritou.

Disse tudo que não queria ouvir: não sou uma destruidora de lares, não quero relação contigo, só quero teu dinheiro, nem teu corpo caído, flácido me interessa mais. Ele, surdo pelo meu decote e o capuccino na mesa, só ouviu algo sobre um corpo, que queria mais. Deve ser o dela, pensou. Fiquei indignada: nem ele me escutava. Resignei, peguei o cigarro e um outro gole do Expresso.

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